Na raiz das areias, fronteira entre a terra e a beirada areenta do mar, alinham-se as capelas do "argaço". Com o seu chapéu de colmeiro, defendidas e como que agasalhadas por plásticos e oleados, salgadas pela marujem, bem atadas e seguras com pedras, tudo indica quanto são preciosas. [...]
Ali, entre as algas secas, está amassado suor, as canseiras, um trabalho escravo que não respeita horas de cama nem as do comerzinho, porque depende da maré e é feito muitas vezes de noite, de madrugada, na hora em que o sol aguilhoa ou ao fim da tarde, quando a nortada fria e açoita. Um trabalho nem sequer enxuto, pois os obriga a meter-se na água até à cintura ou à altura dos peitos para o arrancar às ondas, com as armas do ganha-pão, da graveta ou das ganchas, que os homens lançam para longe, para o irem buscar antes da boca da rebentação.
Depois é preciso arrastá-lo para ser estendido, fora da linha d'água para que o mar o não leve de novo, achãosar as areias, estendê-lo, esperar que esteja seco e "em modo" (não áspero) para ser empadelado e novamente, à carrela, arrastado, em padelos, para a capela. Aí, lenta, lentamente, o vão acamando até que seja promessa de uma searinha de batata, cebola, alho, milhinho, feijão ou "cenouro". [...]
Mas de ano para ano minguam as capelas do sargaço. [...]
Quem quer trabalho, sem horário, sem salário e sem reforma? Minguam de ano para ano as capelas do sargaço, que antigamente eram muitas, espalhadas pelas margens de abremar e da estrada, sem prédios, [...]. A chusma das capelas de sargaço confundia-se, vista de longe, com deslocadas aldeias africanas. Mas era no tempo em que o sargaço se pescava à nassa. Onde isso vai! As nassas? Enormes sacas de rede e armação de ferro, são agora peças de museu, e os poucos que ainda andam ao sargaço já não o pescam em barco, limitando-se a aproveitar o que a maré arrasta.
(Luísa Dacosta, in Sargaços de Cristóvam Dias)
Ali, entre as algas secas, está amassado suor, as canseiras, um trabalho escravo que não respeita horas de cama nem as do comerzinho, porque depende da maré e é feito muitas vezes de noite, de madrugada, na hora em que o sol aguilhoa ou ao fim da tarde, quando a nortada fria e açoita. Um trabalho nem sequer enxuto, pois os obriga a meter-se na água até à cintura ou à altura dos peitos para o arrancar às ondas, com as armas do ganha-pão, da graveta ou das ganchas, que os homens lançam para longe, para o irem buscar antes da boca da rebentação.
Depois é preciso arrastá-lo para ser estendido, fora da linha d'água para que o mar o não leve de novo, achãosar as areias, estendê-lo, esperar que esteja seco e "em modo" (não áspero) para ser empadelado e novamente, à carrela, arrastado, em padelos, para a capela. Aí, lenta, lentamente, o vão acamando até que seja promessa de uma searinha de batata, cebola, alho, milhinho, feijão ou "cenouro". [...]
Mas de ano para ano minguam as capelas do sargaço. [...]
Quem quer trabalho, sem horário, sem salário e sem reforma? Minguam de ano para ano as capelas do sargaço, que antigamente eram muitas, espalhadas pelas margens de abremar e da estrada, sem prédios, [...]. A chusma das capelas de sargaço confundia-se, vista de longe, com deslocadas aldeias africanas. Mas era no tempo em que o sargaço se pescava à nassa. Onde isso vai! As nassas? Enormes sacas de rede e armação de ferro, são agora peças de museu, e os poucos que ainda andam ao sargaço já não o pescam em barco, limitando-se a aproveitar o que a maré arrasta.
(Luísa Dacosta, in Sargaços de Cristóvam Dias)
O sargaço, ou argaço ou moliço, são algas que, com a agitação das águas do mar, nomeadamente nas marés vivas, se desprende do fundo do mar, é arrastado pelas correntes para a costa. Este, depois de apanhado e seco, serve de adubo para as terras.
A apanha do sargaço acontece depois do mês de maio, e as algas, ou se mostram a seco no areal das praias, aí arrojadas pelas ondas, ou na água, a descoberto durante a baixa mar, quer em flutuação quer presas às rochas.
O sargaceiro, conforme as situações, ou percorre o areal limitando-se a agarrar o sargaço ali estendido, ou utiliza ferramentas próprias para o retirar do mar. Homens e mulheres, descalços e de pernas nuas, entram na água até à cintura ou até ao peito, enredam as algas e puxam-nas para si.
Uma vez apanhadas são transportadas em cestas ou canastras para o local de secagem, sendo deixadas a curtir ao sol e ao vento durante meses. De seguida, o sargaceiro, arruma-as em montes circulares, espalhados ao longo da costa, a que dá o nome de capelas.
As capelas, semelhantes às medas de palha, são rematadas no topo por uma cobertura de palha segura por pedras colocadas sobre si e amarradas muito próximas, por forma a impedir que o vento destrua a construção. A estas pedras a população chama vencilhos.
(Turma 6ºA)